PSICOPEDAGOGIA:
SUPERANDO A FRAGMENTAÇÃO DO CONHECIMENTO E DA AÇÃO
Neide
de Aquino Noffs
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Causa-me
perplexidade esta reação de ataque e não de diálogo do Conselho Federal de
Psicologia. Já presenciei esta ação quando a própria Psicologia, ao
diferenciar-se da Psiquiatria, exigiu respeito às suas idéias ao novo que
emergia.
A
Psicopedagogia é uma intersecção entre a Psicologia e a Pedagogia?
Não. Ela
é um novo conhecimento que nasce a partir da intersecção, é a própria
intersecção. Isso significa que tanto destas disciplinas, quanto de outras
como: filosofia, lingüística, etc, são selecionados conhecimentos específicos
que colaboram na compreensão do objeto da Psicopedagogia (que é o processo de
aprendizagem, como se constrói o conhecimento) desta forma, quem fez curso
específico de Psicologia, e de Pedagogia, não encontrará necessariamente a Psicopedagogia.
Ela é uma ação que nasce deste conhecimento interdisciplinar, mas esta ação é voltada para subsidiar o sujeito cada vez mais em sua própria aprendizagem, neste sentido, o processo de aprendizagem é que é estudado criteriosamente pela Psicopedagogia, bem como as dificuldades dela decorrentes.
Ela é uma ação que nasce deste conhecimento interdisciplinar, mas esta ação é voltada para subsidiar o sujeito cada vez mais em sua própria aprendizagem, neste sentido, o processo de aprendizagem é que é estudado criteriosamente pela Psicopedagogia, bem como as dificuldades dela decorrentes.
Qual o
objeto de estudo da Psicopedagogia?
O objeto
de estudo é o processo de aprendizagem, o processo utilizado pelo sujeito
enquanto construtor de seu conhecimento. Algumas pessoas ao estudarem
aprendizagem entendem que o contrário da aprendizagem é a dificuldade da
aprendizagem, mas não entendo desta forma, o contrário da aprendizagem é a não
aprendizagem.
As causas da não aprendizagem podem ser de três naturezas distintas:
As causas da não aprendizagem podem ser de três naturezas distintas:
- Não aprenderam porque não passaram por um processo sistemático de ensino;
- Foram ensinadas, mas por algum motivo externo ao sujeito (didática do professor, filosofia da escola, número de alunos por classe, problemas sociais, culturais, etc.), não aprenderam;
- Finalmente não aprenderam por dificuldades individuais específicas (orgânicas e emocionais).
Cabe ao
psicopedagogo inicialmente diferenciar as situações
facilitadoras/dificultadoras pelas quais as pessoas passaram resgatando seu
processo (incluindo na história de vida a aprendizagem) Exemplo: Como andou?
Como falou? Como se adaptou à escola? Como reagiu frente às tarefas
escolares... Posteriormente identificar o quando e o porquê.
Qual o
profissional que estaria qualificado no mercado de trabalho para atuar no
processo da aprendizagem?
No curso
de formação em Pedagogia, a prioridade está nas atividades de ensino, neste
sentido a pedagogia está ligada à docência e posteriormente aos especialistas
em educação (orientador educacional, orientador pedagógico, administrador
escolar).
No curso
de formação em Psicologia, a prioridade está no conhecimento das teorias
psicológicas explicando o sujeito em detrimento às teorias de ensino.
As duas
formações geram uma necessidade de uma complementação, de um aprofundamento,
partindo da articulação de como ocorre o processo de aprendizagem sem deslocar
do seu contexto real. Entendo a articulação como a não fragmentação do
conhecimento e da ação nos modelos vigentes.
Neste
sentido, surgem um novo conhecimento e um novo profissional, com uma nova atuação
que não pode ser a justaposição de conhecimentos e ações, e sim, articulação e
adequação à situação vivida. Não cuidar desta nova atuação, como nova
profissão, implica em correr riscos no exercício desta atividade,
assim a Psicopedagogia deverá ser normalizada e legalizada, dentro destes
princípios.
Este
conhecimento e atuação só podem ser propostos em um curso de formação em nível
de pós-graduação, onde a meta é propiciar a transferência para a sociedade
destes conhecimentos construídos cientificamente.
Além
desta, devemos acrescentar que o psicopedagogo emerge de um grupo de
profissionais que já tenham uma experiência advinda de áreas afins. A
psicopedagogia inicialmente se apresentou como uma especialização que
influenciou a própria mudança da Educação, conforme Cezar Coll (entre outros)
escreveu em seus livros. Com o passar do tempo, esta especialização gerou uma
ação tão específica que só aquele que fez a psicopedagogia, é que pode exercer
a psicopedagogia. Neste sentido, é que regulamentar esta profissão se faz
essencial para garantirmos a redução de distorções da prática. O mercado já tem
pedagogos e psicólogos qualificados, precisamos garantir psicopedagogos também
qualificados através de formação e regulamentação da profissão.
Portanto,
este profissional precisa ter uma sólida construção teórica, uma vivência
significativa na realidade, conviver com o ambiente de produção de
conhecimentos a partir de um comprometimento ético.
Há no
mercado cursos que atendam essa especificidade?
A partir
da nova LDB de nº 9394/96 houve uma abertura para novos cursos que atendessem à
necessidade do futuro. É a responsabilidade de pessoas que no presente que
propiciem a sobrevivência do homem em uma sociedade de mudanças.
Convivíamos
antes da LDB com a resolução nº 12/83 que criava cursos de pós-graduação em
nível de especialização e aperfeiçoamento que se destinavam à qualificação de
docentes para o magistério superior e que tinham a duração mínima de 360 h não
computando o tempo de estudo individual ou em estudo sem assistência docente.
Simultaneamente
convivíamos com o curso de pós-graduação stricto sensu cuja intenção era o
aprofundamento de um conhecimento de uma determinada área que culminaria na
construção de novas idéias que beneficiassem a sociedade como um todo. Porém,
em 16/12/98, foi criada a portaria nº 80 da Fundação Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para o aprimoramento de
conhecimento ou técnicas de investigação científica, tecnológica ou artística,
visando uma atuação mais dinâmica e efetiva no mercado.
Foi
denominado de mestrado profissionalizante, uma vez que não implica na
eliminação do mestrado anteriormente denominado acadêmico, sua intenção é
desenvolver capacidades de concepção e elaboração de projetos, visando à área
profissional garantindo a compreensão e resolução de problemas imediatos, porém
direcionadas para o futuro.
Ou seja,
a sociedade exige profissional, com perfis diferenciados e habilidades
específicas para enfrentar um mercado diversificado e em constante renovação,
neste sentido o psicopedagogo se apresenta como um dos que atendem a esta nova
necessidade, o que justifica a sua formação em nível de pós-graduação. É o
encontro da universidade com as exigências da sociedade. Neste encontro se
exige do profissional, maturidade, experiência profissional mínima, e ter
passado por um processo de aprendizagem reflexiva e consciente. Isto só é
atingido num processo de interação, ação, atuação, e construção de conhecimento
“útil” às pessoas.
Inicialmente
a pós-graduação latu-sensu, com 360 h apenas, propiciava uma especialização sem
a intenção de profissionalizar, porém a Psicopedagogia de forma intuitiva já
propunha esta formação com uma carga horária e exigência acadêmica maior,
aproximando-se das idéias envolvendo atualmente o mestrado profissionalizante.
Em minha
compreensão a Psicopedagogia neste momento deveria fazer parte das
pós-graduações em nível de mestrado e não em nível de lato-sensu, os cursos que
trabalho já vivem isso há muito tempo.
Esta nova
profissão estaria criando uma nova reserva de mercado?
É comum
encontrarmos atualmente em cada família, uma pessoa que precise de apoio em seu
processo de aprendizagem, estas famílias têm procurado psicopedagogos na
tentativa de entender o que está acontecendo com seus filhos se afastando de
“rótulos” precipitados.
O que
buscam é o atendimento que facilite o retorno de seu filho ao processo de
aprendizagem escolar e não mais subsídios familiares que protelam de forma
muito significativa este retorno. A família não nega seu problema, porém ela
espera o atendimento à escolaridade de seu filho reduzindo a repetência, a
evasão, a troca de escola como soluções aos problemas escolares e a ajuda
efetiva junto aos profissionais da escola e à própria família. O psicopedagogo
participa ativamente em parceria com profissionais de diferentes áreas como:
psicólogos, fonoaudiólogos, médicos, etc, sem perder a sua especificidade e nem
utilizar instrumentos que são exclusivos de outras áreas como testes
psicológicos.
Este
atendimento ocorre em nível clínico e a regulamentação desta profissão
permitirá a expansão deste atendimento às diferentes camadas sociais.
Nossas
crianças empobrecidas têm este atendimento clínico junto aos cursos de formação
em Universidades como: PUC de São Paulo, Faculdade São Marcos, UNI Santana,
Universidade Potiguar, Instituto Sedes Sapienthiae, além de trabalhos
específicos como em Brasília junto às Secretarias de Educação, etc.
Esta
profissão cria um novo mercado de trabalho e não uma reserva, visto que já há
mais de 30 anos os psicopedagogos atuam.
Como Doutora
em Educação, como entende esta reação do Conselho Federal de Psicologia, quando
ataca veementemente a questão da profissionalização do psicopedagogo?
Causa-me
perplexidade esta reação de ataque e não de diálogo.
Já
presenciei esta ação quando a própria Psicologia, ao diferenciar-se da
Psiquiatria, exigiu respeito às suas idéias ao novo que emergia.
Cuidar do
sujeito psíquico não poderia ser exclusividade de psiquiatras e sim de parceria
entre psiquiatras e psicólogos.
O
conhecimento psicológico é inicialmente retirado da psiquiatria e nem por isso
se confundia, ou invadia campos. Surgia um novo fazer que na opinião (inicial)
dos psiquiatras era inconsistente, pois lidar com o sujeito psíquico requeria
lidar com patologias e medicamentos apropriados, abrir mão deste fazer
significaria não favorecer a cura do sujeito, protelar a solução...Psiquiatras
aceitaram os argumentos dos psicólogos.
Várias
escolas preferem profissionais formados em psicopedagogia. Legalizar esta
profissão amplia o mercado de trabalho para pedagogos e psicólogos que convivem
harmoniosamente no momento da formação. Não aceito os argumentos que o fazer
psicopedagógico deveria acontecer naturalmente na ação dos professores. Lido
com eles a mais de 30 anos, e este conhecimento não fragmentado, ainda não
chegou com esta força, pois a tendência (psicologizar ou pedagogizar), ocorre.
Só uma
formação específica gera um fazer específico.
Por que
não um profissional específico?
Respeito
o Conselho Federal de Psicologia quando “Cuida da Profissão de Psicólogo”,
porém não aceito a posição de exclusão do psicopedagogo no mercado de trabalho.
Há no
Brasil por volta de 20.000 profissionais em efetivo exercício, deixemos que a
sociedade decida a quem recorrer em caso de assuntos envolvendo a aprendizagem.
“O
psicopedagogo é o profissional do novo milênio”
Neide
de Aquino Noffs - Doutora na área da Educação pela Universidade de
São Paulo, com tese na área da Psicopedagogia; Docente na PUC/SP e na
Universidade São Marcos; Assessora e docente do curso de Psicopedagogia no Rio
Grande do Norte - UNP; Assessora em instituições escolares nos Estados de São
Paulo, Goiás, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul; Presidente da Associação
Brasileira de Psicopedagogia - gestão 95-96/97-98.